18/07/2017 23h38
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (95ª POSTAGEM)
FERNANDA CRUZ FILHA (1967) poeta goiana, é psicóloga, mestranda em Performances Culturais pela Universidade Federal de Goiås. Publicou os livros de poesia: Regatos do Instante (2007 )e O ar mais próximo, (2012). Antes de enveredar pelos caminhos da poesia, atuou em artes cênicas e também como cantora de mpb e música edudita. ELO (a Carlos Rodrigues Brandão) abraço o que passa e perpassa os teus ais A SE DAR o silêncio aberto e minhas mãos percorrem no tempo tudo vai e vem a unir a aparência nas coisas não revela entre a flor e a raiz há um leve traço ESTÁTUA sublime linguagem da estátua muda ALGUNS SILÊNCIOS Alguns silêncios com que nos acostumamos
dos livros
Uma imagem fecunda uma vida e quem dera no que a tempos se diz primavera ADRIANA GODOY(19 ) poeta mineira, é formada em letras pela UFMG e trabalha como professora e revisora. Desde pequena escreve, mas foi a era dos blogs que tornou seus textos mais conhecidos. Colabora com alguns blogs e revistas literárias e alguns de seus poemas foram publicados no livro ‘Maria Clara: universos femininos’. Em 2015 publicou o seu primeiro livro solo: Mil noites e um abismo não te amei logo de cara levou exatamente quarenta e sete dias e uma noite foi quando vi que seus olhos choraram quando te contei sobre as noites de chuva em uma casa velha que eu morava foi quando te falei de um poema sobre a solidão das pessoas nas noites de um bar e você mordeu levemente os lábios e me pediu mais uma dose de uísque levou exatamente quarenta sete dias e uma noite para eu ver que você era a pessoa que eu queria ao meu lado quando chovesse ou quando o dia fosse claro e te vejo agora como te vi aquela noite e no rádio toca uma música e você me chama pra ouvir e talvez vamos dançar juntos mais uma vez VOU TE DAR MEU ÚLTIMO VERÃO vou te dar meu último verão todo o outono amarelo e quando me alcançar vai ver que sou o mais puro inverno não dos trópicos mas dos lugares mais frios da terra terras da sibéria não adianta me dizer para abrir as janelas o sol me é estrangeiro tenho em mim geleiras ancestrais meu coração não bate vacila descompassado selvas do universo me rondam e mesmo assim você vai me recriar e me amar com tudo que sou porque você precisa de uma criatura só sua mesmo inventada mesmo com essas sombras geladas CONSTATAÇÕES tá bom, você me disse que eu precisava sair de casa, respirar outros ares, ficar com outras pessoas. mas não tô conseguindo, entende? gosto de ficar aqui com meus gatos, minha música, meus filmes. ontem até vi pânico na floresta 5. porra, todo mundo morre de maneira mais cruel e no final só os bandidos escapam e felizes. aí você me pergunta: por que eu vejo filmes como esse tipo c? eu que gosto de filmes de arte e afins? talvez algum tipo de superação ou punição subliminar, será? de noite até sonhei com algumas cenas. gosto de fumar sem ter ninguém me enchendo o saco. gosto de pendurar a roupa no varal e depois ficar olhando as cores perfumadas ventando na área. gosto de poder ouvir as músicas que me fazem viajar pra qualquer lugar de mim ou do mundo. gosto de não atender o telefone. gosto de não ter horário pra comer. gosto de não ir ao médico. gosto de ler poemas fodas e textos fodas e descobrir uma porrada de coisas que mexem com a alma. e passear pelo facebook mas nem sempre. gosto de andar com roupa velha e rasgada. gosto de voltar pra casa sempre. gosto de tomar café olhando a tarde. aí você me disse que era depressão mas não tô triste. até danço e canto e brinco no sol com os gatos. vejo amigos e gosto de ficar com eles e saber que estão por perto. gosto de me desesperar pelo meu time e gritar quando ele ganha. gosto de tomar uns porres e só falar merda. gosto de beijar na boca e namorar de vez em quando. e cozinhar quando tenho vontade. gosto do frio e de dias cinzentos. gosto de ficar com o pessoal lá de casa e muito. gosto de saber que meus filhos estão bem. mas não consigo lidar com a desumanidade nunca.
gosto de saber que ainda posso fazer o que gosto. FERIDAS CUSTAM A SECAR tenho em mim o resto de meus dias e não sei de que são feitos sei que horas são quando me chamam pra almoçar ou qualquer outra besteira cotidiana a não ser quando incendeia a lua me importo menos com as coisas que me atormentavam tanto e desisto de pular a janela vou acumulando sorrisos e caretas feridas custam a secar lobos passam silenciosos e com medo percebo só as suas sombras e isso me basta um drink, amor? para celebrar o vazio o que importa se os degraus são altos e não posso alcançá-los? enojam-me as tragédias humanas e sou uma delas PÂMELA FILIPINI(1994) poeta nascida na cidade de Rolim de Moura , em Rondônia, começou a escrever na infância. Tem formação universitária em Pedagogia, e atualmente dedica-se exclusivamente à escrita. Cultiva solidão e se planta ao silêncio para sobreviver. Escreve. E nas horas vagas, existe.,O lançamento de seu primeiro livro, Folhas dos Ossos ou o tratado das coisas insignificantes será dia 26 de Agosto, no Patuscada. Haverá um dia que serei apenas letra
e no meu epitáfio será gravado […] “ela, de tanto ser nada, tornou-se palavra.” .......................................................................................................... Nalgum momento da vida é preciso
desmoronar
[todo início já foi um entulho] […] Recriar-se é uma contínua
desconstrução de escombros. SOLIDÃO RASA Solidão rasa, aquela que tece vazios incuráveis
[na artéria do tempo]
Que não perfura o átomo do mundo e não pode plantar o afeto
no cerne do escombro
Que não corrompe os moldes, que não peca amando o amor como o
amor que ama o ferido
Que coagula as coisas de dentro com a mesma rapidez que esconde
o olho na pálpebra
[que não é semente] […] A semente só aponta à vida quando afogada pela terra. ................................................................................................... Sou uma metáfora no mundo.
[quero ser real]
Uma canção cantada pelas
folhas que caem das árvores.
A celebração da fruta que
amadurece. POEMA PARA QUEM NÃO CONSEGUE CESSAR DE SI MESMO Não é conhecer alguém, principiá-lo em seus silêncios se apaixonar por alguém, aprender a amar alguém
Não é viver com alguém, chorar nos ombros de alguém ter a mão de alguém esquentando a sua
Não é sorrir para alguém dar uma flor para alguém ou plantar um jardim inteiro para alguém
Não é sangrar sua alma para alguém dar a alguém todos os seus poemas ou em alguém abraçar todos os abraços
Não é brigar com alguém sair da vida de alguém e iniciar um novo amanhecer com alguém […] É nunca ter alguém nunca conseguir esquentar a mão de alguém por ter o passo costurado ao chão por não suportar estancar o sangramanto da própria alma
É nunca conseguir sorrir porque a boca tem medo do desabrochar porque tudo o que floresce recebe novos olhares
É querer ler todos os poemas que escreveu para alguém mas não conseguir abrir a porta do quarto.
É nunca conseguir cessar de si mesmo. NATASHA FELIX(1996) poeta santista, está vivendo em São Paulo e cursa letras na USP. Publicou o zine anemonímia (2016) e tem poemas por algumas revistas digitais e físicas. Os textos podem ser encontrados na Mallarmargens, Medium, Nó de 8, Garupa, Raimundo e soltos em sua página pessoal do Facebook.
com a cabeça pousada nas pernas da avó a saia de brocado pinica a orelha esquerda.
cantarola salmos e vai à caça distraída.
o pente-fino é azul. as varizes na panturrilha dela também. os dias e a toalha de mesa. o pente-fino atravessa meus cabelos de diaba as crianças dizem diaba eu nunca digo. um pouco amansados (não o suficiente) com álcool e cravos nada enquanto a avó ajeita os óculos, procura bichos em mim.
a mesma que estoura as lêndeas as unhas imensas. como se vingasse suspeito o que não caberia na casa. CARTA ABERTA AOS HOMENS DE PASSAGEM você com certeza vai você com certeza vai lembrar de mim quando topar com a salamandra azul no orquidário vai com certeza você vai com certeza lembrar de mim. do anel que foi parar no ralo cheio de cabelo e porra, você vai lembrar dos filhos que não fez em mim eu te disse era sério quando o elevador quebrou no oitavo andar eu te disse aquele era o nosso momento de glória eu te disse pra botar no formol e você não entendeu na hora mas acho que agora olhando a salamandra azul vai sacar eu chego sabendo que vou embora. você vai lembrar a gente com vinte anos sem vergonha na cara nem pra comprar um cortador de unha imediatista eu arrancava os excessos com os dentes. tinha dez reais pra catuaba e um baseado no bolso eu arrancava os excessos com os dentes. você vai lembrar disso de hoje pra trinta anos isso vai ser uma lenda você vai lembrar de mim com certeza vai encostar a testa no box no segundo banho do dia enquanto tua mulher tira os pentelhos da virilha e lê sobre o golpe na turquia e eu vou estar em qualquer lugar longe da casa que nunca tivemos. CRAQUELADA tenho habitado muitos riscos. o baiacu inchado na garganta insiste em me competir o ar. como trepar em montevidéu e acordar no jaguaré: genealogia do deslocamento - me abstenho de maiores explicações. li piva como quem toma chá de camomila com canela assim descobri que o erro é um bacanal lotado de ex marido. não dá pra ler piva antes do dejejum de uma segunda-feira do mesmo jeito que não dá pra esperar o baiacu sair da garganta por vontade divina. tenho ficado muito quieta & no silêncio a evidência me expõe: a memória das sereias do tejo, essa eu invejo; das prostitutas da Mongólia tenho os mesmos dentes vermelhos. não sei onde guardei as fotos da ultima ida ao mercadão de são paulo. onde deixei o molho de chave, onde foi parar aquele gozo na páscoa de 98, o jornal pra embalar os cacos de vidro, não sei onde. o baiacu espinha minha glote, me impede a distância. mesmo assim eu e o que restou das minhas lembranças tombadas – nebulosas e uruguaias como você – no ringue, lutando contra o peixe, eu. FACTUAL foi certeiro o tiro foi rigidamente correto bem no meio do olho do fuzuê no metrô da sé seis e meia peritos rearranjam a cena toda a peripécia dá pinta de que foi marido corno atrás do próprio espelho, velha leonora diz isso mas tem aqueles casos de objeto não identificado na pista sabe não basta adiantar a vontade de deus ainda atrapalha a vida dozoutro não sei não sei pode ser bala perdida mas foi tão certo o tiro foi tão dentro da expectativa não sei não sei pode ser só impressão minha ou esse giz de marcação lupa autópsia esse cálculo todo com fita métrica e tudo do espaço entre o ato e o desfecho essas suposições o desconforto tudo muito contraído não sei não sei pode ser que esse tiro certeiro seja como o nosso encontro: nem aconteceu ainda.
Publicado por Rubens Jardim em 18/07/2017 às 23h38
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