Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
22/05/2018 12h08
OUTRO POETA TAMBÉM ANALISA A PASSETA

A POESIA ESTÁ NA RUA

Claudio Laureatti*

Vamos pensar o fato artístico ou cultural que enfoque a análise na recepção da Passeata. As "lacunas e indeterminação", no caso, não são vistas aqui de maneira julgativa ou depreciativa, mas no sentido de levantar as situações ocorridas na Passeata.Sugerir um trajeto não quer dizer efetivamente que este fosse realizável pois dependíamos das circunstâncias exteriores. Isto é, após nos colocarmos em roda em frente às escadarias do Tribunal Federal caminhamos em direção ao MASP. Domingo ensolarado com a Avenida Paulista povoada de expressões artísticas. Algumas delas com aparelhagem sonora muito mais forte que nossa caixa de som.Tivemos que nos mover para fora do raio dessas potências sonoras. A força da poesia vem menos do aparato tecnológico e mais da riqueza da construção das frases. E neste aspecto, particularmente, senti-me contemplado com os cartazes presentes.Outras vezes nos deparamos com grupos dançando em círculo com bastante adesão dos transeuntes e ocupando uma das pistas por inteiro. Tivemos que passar para o outro lado da avenida. Uma das questões foi manter compacto o grupo (em torno de 40 pessoas). Houve paradas na Passeata pra lermos as frases que levantávamos nos cartazes preparados pelos participantes com o grupo em formação de Passeata. Isto causou efeito sobre as pessoas: o direito à literatura, sua função e seu papel humanizador estavam presentes no espírito da Passeata. Ou seja, não fomos um monobloco, cercado por dois cordões de isolamento, com frases repetidas e arvorando-se a ser dono de duas ou três faixas da Avenida Paulista. Não foi nada disso.Não impusemos a Passeata às pessoas ao redor mas propomos dialeticamente, avançando de forma coesa num elogio à inteligência e à arte de fazer poesia. Quando chegamos próximo ao prédio da FIESP formamos uma roda de poesia, recitamos as frases e decidimos retornar ao ponto de onde saímos. De minha parte, carreguei a caixa de som e fiz circular o microfone para que todos e todas que assim desejassem falassem suas frases e seus poemas curtos. Sentimento estético não é apenas distração ou prazer, é a qualidade do que nesse mundo é vida, dimensão de vivências profundas, invenção ou descoberta da beleza que supera o imediato. E caminhamos assim. "As incompletudes e as imprecisões" estão no horizonte de atos poéticos como os nossos.Esta foi a paisagem da Passeata, na sua própria ação criadora de se entender enquanto Passeata (Poética) e em sua recepção por parte das pessoas presentes ao ato e, obviamente, das pessoas ao redor. Houve adesão de pessoas a essas nossas subjetividades, isto é, teve gente que se sentiu contemplada em observar na Paulista uma Passeata Poética, gente que se identificou com a proposta espontaneamente. Ao retornarmos, ficamos um pouco à frente do local de partida, pois, novamente, existia uma banda com som alto junto à Escadaria do Tribunal. Colocamos as faixas na calçada vizinha e batemos a foto coletiva. Penso que o movimento da poesia está ligada ao dos direitos humanos. As injustiças contra as quais lutamos se encontram por aí. Nossas soluções de Passeata foram bastante democráticas. Não existe um jeito ideal mas saímos com a certeza de termos feito o máximo viável na correlação com as circunstâncias presentes durante o ato. E mais humanizados, mais fraternos, mais poetizados. Quais foram vossas impressões com relação à Passeata, pessoas ?

*Claudio Laureatti é ator e poeta.


Publicado por Rubens Jardim em 22/05/2018 às 12h08
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