Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
15/08/2008 20h35
A IMPORTÂNCIA DE UM NOME


Isalina não é nome pronunciável
longe da Vila.
Defronte desta casa
o melhor é calar.
Catar os cacos e recompor os elos 
que me prendiam aos teus braços  
às tuas tranças, às tuas mãos, 
ao teu sorriso. 

Desapareceste da minha vida
mas não desapareceste de mim.

Deixaste um nome e junto dele
uma porção de imagens.

Ou será uma poção de imagens?

O certo é que quando falo Isalina
Isalina não vem mais. Mas vem 
uma longa ausência espiando 
sua passagem pela Vila 
e pela minha vida.

Ela estava no primeiro das coisas:
com seus olhos exatos, 
as mãos retas e reticentes, 
o corpo grande,  inocente.

Isalina é território etéreo, 
permanência cultivada. 

É fonte que não foi feita por Bernini. 
Mas ainda assim é fonte:
água musical e colorida.

Talvez não seja também a Roma negra do Darcy.

Mas é certamente a força motriz 
da música da minha voz antes da palavra, 
água repousante
no lago,  lenho queimando,  luz
no peito solar,  signo indecifrável.

No palco della lucce sobram sombras
de tudo aquilo que não existe mais
e teima em existir tão perto 
como o parque diante desta moradia nova.

Jorge de Lima afirmou: O nome afinal 
que importa à essência de um poema?

Mais tarde, outro poeta amado
registrou a sua perplexidade: 
mas que importa um nome a esta hora
 do anoitecer em São Luiz do Maranhão?

E eu, poeta bem menor, que nunca passei
pelo fundo do Inferno, nem pelo alto do Purgatório, 
que desconheço o Paraíso --celestial ou terrestre, 
importo teu nome 
para celebrar em sigilo teu contorno inconsútil.

Emerges da multidão
mas não visualizo teu vulto. 
Sei que não carregas nenhuma oferenda 
aos deuses crucificados.

Estás viva e muda 
diante das três margens do Rio
e sabes que a alma 
só se lava mesmo é na lama 
ou no coração das águas.


Publicado por Rubens Jardim em 15/08/2008 às 20h35

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