27/07/2012 12h11
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (24)
CARMEM LÚCIA FOSSARI (1954) poeta catarinense é mestre em Literatura Brasileira pela UFSC com opção em Teatro, diretora de espetáculos do DAC - Departamento Artístico Cultural da UFSC, diretora e fundadora do grupo de pesquisa Teatro Novo. Escreveu, encenou e dirigiu várias peças que foram premiadas. Publicou Heresia(2011) após testar a receptividade de seus poemas em blogs e sites da internet. POEMA PARA FERNANDO ARRABAL Uma borboleta voou desde as ferrugens dos carros de teu cenográfico mundo Dali, um salvador Depois que tomado de sangue e tempo, Tu és o terceiro espanhol, forjado na espanha pós guerra civil Canto para ti, porque acendes o amor , que lorca tão bem o cantou, Desde nosso mais íntimo forum patafísico, que o humor é a única ponte que atravessa o medo, o terror POESIA À FEDERICO GARCÍA LORCA Em ternura tuas palavras Ainda ressoam Ecos, e, se tuas Porque desvendas e, Por teu sentimento Revelam-se, são nossas As palavras Que precisamos ouvir E evocam também as Nossas “veias abertas” E, então vem à cena: “ LA BARRACA” Nos bairros e vilas camponesas Eis o lazer pensante, Chegando cedinho Antes mesmo que a Nova ordem social Traga: Sopa quente A todas as mesas! O teu Teatro, chegou Trazendo vida à quem Tem que ter esperanças!! E,o outro tempo, que Também passará... Há de chegar breve, E vai soprar nos ouvidos Em sussurros LIBERDADE (carícia comum) Olho agora teus olhos Negros, Tão negros e belos Que não conheci, Mas que os vejo, emergem Impressos, fotografias E, eles ainda falam Mesmo, depois de serem fuzilados, se alam do papel memória e, Contam as nossas incontáveis Desesperanças. Só estes teus versos fortes movimentam e penetram E dizem que a força do trabalho De sol a sol, dos homens, das mulheres, E (que horror) das crianças, Silenciam gritos! Só eles falam à todos nós De que é inabalável o movimento Do movimento Que chega da força coletiva Para que este mundo, do não Seja ontem. Agora choras porque te roubam A tua vida E os teus olhos negros se fazem silêncio. S i l ê n c i o Mas as nossas vozes de trabalho, não te silenciam E, gritamos ensurdecidas, ensurdecidos, até que Por tuas palavras resgatamos Que há outro caminho, por onde caminhamos E caminhamos em ti abraçados LORCA, LORCA! ....Continuamos.
TRAVELLING
VOLTEIO RITA MOUTINHO (1951) poeta cariosa, jornalista e pesquisadora, é formada em comunicação social pela PUC-RIO, colabora em jornais e revistas e orienta oficinas de poesia. Estreou em 1975, com Hora Quieta, livro que teve muito boa repercussão crítica. Seguiram-se A Traça(1982), Uma ou Duas Luas(1987), Vocabulário, Um Homem(1995), Romanceiro dos Amantes (1999) e Sonetos dos Amores Mortos(2006). A PAZ NÃO FAZ BARULHO À noite nascem as horas de viagem: carrego o dia em bagagem até o cimo da falésia e lanço os desatinos em mergulho.
Só então as límpidas águas do escuro alvam o futuro das dissonâncias do dia. O choro estia e durmo: a paz não faz barulho.
VELEIRO
SONETO DUPLO PARA YANG E YIN A arte de amar nos nasce espontaneamente, ........................................................................... A arte de desamar é árdua e espinhosa, SONETO DE UM SÁBADO SURREAL Tu, anjo do “Teorema” e também bruxo,
MARILDA CONFORTIN (1956) poeta catarinense, prosadora, analista de sistemas e funcionária pública aposentada, vive desde 1975 em Curitiba. Já ministrou várias oficinas deu palestras e fez leitura pública de poesia em teatros, bares e praças. Representou o Brasil em encontros de poesia no México, Nicarágua e Portugal. Em novembro deste ano estará no XX Encuentro Internacional de Mujeres Poetas en el País de las Nubes, Oaxaca, México. Publicou Busca e Apreensão(2010), Lua Caolha(2008)
Gostosa!
Per ver tendo te
Brinde Poesia é uma Flor Bela que Espanca, golpeia, fere, maltrata. Poesia quando ataca provoca cirrose, divórcio, neurose, taquicardia, tuberculose… Poesia mata! Por isso, os grandes poetas estão mortos. Por isso, os poetas vivos são assim tão… tortos. Só loucos, vivem a poesia em sua essência. Em sã consciência, a hipocrisia desta vida é insalubre, arde feito urtiga e é mais fria do que a vodka que consumia Maiakowski. Por isso eu ergo uma taça, e faço um brinde: A todos os malditos poetas seres visceradis pelo avesso, não servis, vis citados, anônimos e abominados que rabiscam e recitam seus manuscritos pelos botecos, sebos, saraus e feiras livres prisioneiros da poesia. Aos benditos que publicam e são lidos, e aos ficam empoeirados, empoleirados nas prateleiras, criando teia, esperando que um dia alguém os leia. Aos que travestem a poesia com barro, tinta, efeitos virtuais, acordes musicais e cantam, pela vida sem serem ouvidos. Um brinde aos que partem cedo, com medo de verem suas almas sendo dissecadas por críticos estúpidos. Poesia é de quem precisa dela, já dizia Neruda. Se você não precisa, não leia, não ouça, não toque! Ela é como um feto: precisa de calor e útero e não de um fórcipe obstetra. E mais um brinde A todos aqueles que atuam à luz do dia, nesse imenso palco, de paletó, gravata, saia justa, salto alto, e esperam impacientes a aposentadoria para enfim, declarar seu amor pela poesia. A todos aqueles que, entraram na fila errada, e estão neste mundo por engano só para diversão dos deuses. Não escrevem, não cantam, não esculpem nem declamam. Mas sentem, amam e acolhem anonimamente a poesia em seus ventres. Um brinde a todos os recipientes!
Suicídio Com agulhas de crochê a velha senhora mata horas. CRISTINA BASTOS (1960) nascida em Uberlândia, Minas Gerais, a poeta vive em Brasília desde 1972. Formada em Educação Artística, exerce também as atividades de artista plástica e fotógrafa. Participou de algumas antologias e publicou dois livros: Decerto Deserto (1992) e Teia (2002). Segundo o poeta Salomão Sousa, assim que publicou seu primeiro livro ela passou a ser considerada uma das importantes vozes da nova poesia de Brasília. Não importa Não importa se não comando meu forte é ver navios
em sossego sei sorver,
se sopra brisas se venta, tempesteio.
Não importa se sou mestre em arrasar passados,
só no meu mapa Mexo é minha a história que calo,
na loucura sei sorver,
o mel, o veneno do meu prato.
Limpidez Quando o profundo
não diz o máximo com o mínimo
interdito
mesmo o emaranhado pode ser sucinto cristalino.
Qualquer Coisa
Publicado por Rubens Jardim em 27/07/2012 às 12h11
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