03/11/2013 20h45
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (41ª postagem)
MARCIA BARROCA(1951) poeta mineira, formada em letras, vive no Rio de Janeiro. Seu primeiro livro, Marés e Semeaduras, saiu em 2006. O segundo, Desclausura-o verniz da unha na boca, em 2009. No ano seguinte, publicou 50 Poemas Escolhidos pelo Autor, livro que ganhou o prêmio Henriqueta Lisboa, da UBE-RJ. Há poucos dias publicou Poemas Nus. Sentido do poema Teria a poesia violetas e vírgulas áridas palavras essencial sentido?
Não sei…
Quando sinto o poema Exponho o grito
Enigma consagrado A liberdade do poema sopra no papel fecundos enigmas
Casulo rompido verso explodindo o que sente
Não existe remendos em pele danificada
Desvirginada a palavra cicatriz consagrada no poeta
Livre voo Meu deserto desarmado dos ventos castiga palavras soltas estribilhos
canções contidas na armadilha dos versos redondilhas
Silêncios ecoam
Não mais escondo minhas asas negras Livre voo em outras companhias
Multiplico fogos de artifício em festa constante O céu enche-se de estrelas
REFLEXO O apartamento inteiro respira você. Nunca pensei que moléculas de poeira gritassem seu nome.
Pedro Almodóvar Desço a ladeira dos meus sonhos de salto alto. Requebro bamboleante nos paralelepípedos de um filme real em preto e branco. Um dia ainda sairei dos nervos. Virarei Almodóvar. ROSA RAMOS (1955) poeta carioca, publicou poemas em jornais e na revista Poesia Sempre, editada pela Biblioteca Nacional. Participou de algumas antologias, Sete Vozes(2004) e Poema de Mil Faces(2012). Não tem livro publicado. Recentemente, 12 poemas de sua autoria foram publicados na revista mallarmargens. ESCATOLÓGICA EM DECLIVE MÉTRICO Há ratos sobre os estoques de mercadorias e algumas baratas rondam a despensa eletrônicos, tecidos, sapatos bananas nanicas e tulipas de Holanda. Tudo cheira a morte e fome e temor e vida. Há um morto sem estômago sob a porta aberta, um visgo seco e um incômodo. Se há vida, mata!
ANDANÇAS Olho os dois pés que descansam de suas viagens. Os dedos, são dez, imóveis conversam entre si. Aconselho-me com eles, afinal são pés sábios, correram terras, pularam abismos, subiram montanhas. Aconselho-me com eles mas não sei a que corpo pertencem. Membros desconhecidos magros, ossudos, lembram os pés de meu pai. Verde-azuis as veias saltam, num grito, ao mergulharem, na confortante bacia. Quisera tivessem asas, pensei. Mas sobram cores nas unhas e uma certa impaciência de caminhos tão reconhecíveis agora depois do banho. Dentro das meias, sob as cobertas, meus pés sou eu.
FAZERES o poeta chega sem alarde ao branco da página; invisível quase, pensa a melodia que há em cada frase e conjuga verbo e imagem, tudo em pensamento, que não se atreve a acelerar o tempo do poema imberbe. cheira a folha, rege o vento que a sopra espanta a mariposa- palavra que vem surgindo como a lua clara. talvez um tango, talvez espanto, ele pensa, as rimas passarinhando seu cérebro, uns grunhidos de fonemas avançam sobre ele até que exausto rende-se ao eterno ex´lio da palavra extrema.
CONVERSAS não quero ser uma sombra contra esta janela que dá para o mar nem uma foto na parede nem uma memória partilhada. meu desejo é ser nossa senhora dos cordões de Oswald, deixar de lado, com Manuel, o lirismo comedido sambar e escrever loucamente e colocar a poesia na rua, essa doceamarga. “ó tristeza, me desculpe” mas já não ando à míngua em busca de amor e sorte. “minha pátria é minha língua” e o mais são cortes na pele das palavras. LELIA MARIA ROMERO (19 ), poeta paulistana, é geógrafa formada pela PUC, pós-graduanda em jornalismo literário. Autora de Poemas pra navegar (1993) e Andaluza (2000). Foi premiada no Concurso de Poesia Falada em 2000. (Dpto. de Bibliotecas Públicas/SP). Seu poema “Teia” fez parte do vídeo da Campanha da Fraternidade/2005. Colaborou com revistas eletrônicas e pesquisa a Espanha medieval. TEIA No tapete de sisal mil dedos de crianças gemem nas fibras do tapete de sisal mil lágrimas de crianças úmidas na contramão nas tiras do tapete de sisal mil unhas de crianças quebradas dentes de leite caídos mil brinquedos mortos apodrecem nas tranças do tapete de sisal mil vozes de crianças calam a cartilha branca nos nós do tapete de sisal mil corações gotejam na memória da terra mil dedos me arranham as veias lutas intestinas se deitam no tapete de sisal sonhos tecidos pelo avesso mil bocas mil esperanças mil destinos diluídos me deixam o útero vazio.
ASTROLABIO para Amir Klink No fim do mundo há um lugar para mim.
Meus olhos lá estão fusão de céu e mar paisagem linha desancora meu coração, horizonte em mim aponta o zênite do sonho, comunhão.
Ali, no fim do mundo o mar mergulha em mim.
MEDITERRÂNEA Vem da aldeia vento que insemina, céu luz paraíso de dor antiga. Ontem. Pulsam sete lamparinas, tangerinas incandescem pupilas drama solar, ilhas que se foram.
ECO Para F.G.Lorca O Cristo Cigano meditou diante do mar, antes da morte a amplidão abraçada a si perdido e lançado ali ante extremos sem faróis, sem palavra nem canto.
Morte ao Cristo Cigano, que sem dança, se recolhe ao todo silêncio e sons submersos, lhe afogam antes da morte, o verso.
Não mais um poema nem o giro cantar, cravos de sangue e sal lançados no maior guitarra conchas e vento.
MONICA MONTONE (19 ) , poeta de Campinas, interior de São Paulo, é formada em psicologia e vive no Rio de Janeiro. Antes de publicar seu primeiro livro, Mulher de Minutos(2003) circulou pela internet onde fez muito sucesso. Participou de várias antologias e tem atuado em inúmeros recitais. Estreou este ano sua peça Sexo, Champanhe e Tchau( que virou livro) e acabou de lançar novo livro: A Louca do Castelo. Link www.monicamontonehome.blogspot.com.br
Mulher de minutos Não sou mulher de minutos Daquelas que os segundos varrem para debaixo do tapete sujo Não pinto os cabelos de fogo Nem faço tatuagem no umbigo Me recuso a usar corpetes e cinta-liga
São poemas que ainda não reguei Prefiro guardá-los em silêncio Até que o tempo amadureça meus minutos E a vida me contemple com seus frutos
Não borro meus cílios com a solidão da noite Nem pinto meu rosto com a palidez das manhãs Meu corpo é feito de marés Onde navegam mil anseios Veleiros sem direção Estou sempre na contramão
Te amo de amor Te amo de amor A qualquer hora O dia inteiro Do jeito que for
Te amo simplesmente Sem mistério, vícios ou pudor Amo o amarelo dos seus olhos Sol poente em plena madrugada Suas melodias Suas trilhas
Amo sem precisar ser amada em retribuição Sem hora marcada Sem demora
Amo na cama e no chão No meio da rua e na calçada Debaixo de chuva Sóbria ou embriagada
Te amo de amor E não há nada que você possa fazer Nem contra ou a favor
Tenho pena das mulheres que não gozam Tenho pena das mulheres que não gozam Elas não sabem Que sob o colchão A pele derrete E que suas grutas ficam quentes Como lava de vulcão
Desconhecem a meninice dos dedos Que pulam de um mamilo ao outro E brincam de esconde-esconde Sob a chuva de estrelas mil
Não imaginam para que servem as mãos Nem para que suas bocas foram feitas - Talvez seja por isso que falem demais
Tenho pena das mulheres que invejam aquelas que gozam Elas não sabem Que seus seios são frutas maduras Morangos, pêssegos, pêras, uvas Pequenas cerejas mergulhadas em doces trufas
Por suas pernas e ancas Jamais escorreu o néctar dos deuses A bebida sagrada O mel branco que é alimento Feito leite de cabra
Tenho pena dessas mulheres Por que elas serão eternamente amargas
As coisas que amo Eu não sei dizer te amo! Porque as coisas que amo, parecem não caber no amor
Amo o aconchego das casas E a maneira como os pés se procuram debaixo das cobertas
Amo a ciranda dos dedos sobre a pele E o aroma dos poemas do Jorge de Lima
Amo o som de água O cheiro de chuva O motivo do riso, não a risada
Amo a beleza que põe mesa A beleza do erro do engano e da imperfeição
Amo o desejo de amar
O tédio de não querer nada O desejo de tudo querer
Amo o cheiro dos ouvidos O jeito de falar A maneira como se olha
Eu não sei dizer te amo! Porque as coisas que amo, parecem não caber no amor
Eu sei sentir te amo
Publicado por Rubens Jardim em 03/11/2013 às 20h45
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