Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
24/08/2017 17h25
AS MULHERES POETAS...97ª POSTAGEM

VERA ALBUQUERQUE(19  ) poeta paranaense, é psicóloga, educadora e ativista cultural. É autora de livros infantis, consultora editorial, criadora de projetos de formação para professores em estados e municípios. Coordenadora interina do Fórum das Entidades Culturais de Curitiba .Publicou o livro de poemas Sozinhes

CLÁSSICO

Porque suas mãos me olham e seus olhos

passeiam em mim...

Quieta,sinto o que elas me dizem e,

Meus olhos fechados, escutam seus dedos

De pianista fazendo da minha pele

o número 3 de Rachmaninoff.

 

FUGAZ

“Coisas que duram bem menos do que a gente

quer: viagem, dormir com chuva, uma dança

bem dançada, um abraço apertado, uma

conversa ao redor da mesa, os amigos e o

alimento que tem nela, pessoas queridas que

chegam de surpresa, a risada estampada no

rosto de um filho e junto com isso a infância

dele, a vida dos cães, a música preferida que

de repente toca no rádio, o canto do sabiá no

meio do trânsito barulhento (eu ouço), aquela

voz tão esperada quando a ligação está ruim,

uma trufa, flores quando a gente ganha e

aquele olhar.

 

A SANGUE FRIO

Quebrar todas as regras,

desacreditar todos os anexins,

viver sem um laivo de mágoa,

porque quem espera, desespera

e eu vivo todos os dias o fim.

 

A lâmina que seguro pelo fio

Me corta a carne e rio.

Rio, porque o rio em que navego

Vai acabar no mar...e me deixo levar e

Meu pensamento, como meu sangue escorre

Arrebenta, ferve...queima...

Como uma torturada que se conserva viva,

Pra que fale, pra que escreva, pra que grite

Antes que morra...

 

Antes que morra... se morta já estava,

Porque a vida nada mais é do que sedução e miragens

Cogitações, assombros, encantos fugazes.

O sol que ilumina queima, o amor que incendeia

É cinza no fim.

Tudo nos escorre pelos dedos como água,

 

Por isso nada mais quero possuir, além de mim.

 

DESINSPIRAÇÃO

Não! Não me ame.

Não me ame por motivos que te fazem achar que me ama.

As razões desse amor não estão em mim.

E também não sei onde estão.

Não me ame. Eu te imploro. NÃO ME AME.

O amor que sente por mim é um fardo, um peso.

Um muro no meu caminho que me faz parar.

Como qualquer amor, não liberta.

Então não me ame. Seremos dois não amados, mas livres.

Eu prefiro...mil vezes eu prefiro.

As rédeas brilhantes do amor cegam a visão,

enganam os caminhantes e nos tiram a inspiração.

Quero minha inspiração. Ela não vem desse amor. Ela vem do caos,

das noites insones, ela vem da falta de amor...mas quando ela vem ela é plena,

e me completa.

Então não me ame.

Mas se ainda assim me amar, não explique, nem justifique e

Por deus – não me culpe.

E por favor não me conte.

Me ame em silêncio. É sublime e lírico...e me deixe ir.

Porque por amor algum eu ficarei refém de nada, além de mim.

E entenda enfim, que esse amor não existe.

O amor só existe em si mesmo.

Mas, se por desatenção ainda assim, quiser me amar,

não ponha as razões da alma,

não ponha as razões do corpo.

Não fale dos motivos de Deus (estes ninguém explica).

Não fale dos motivos meus (não existem).

Se quiser me amar, me ame sem motivos.

Não existem motivos no amor.

Os motivos querem explicação.

O amor ama.

Os motivos não

 

HELENA ORTIZ(19  ) poeta gaúcha, é jornalista, contista e editora. Criou e dirigiu o projeto Panorama da Palavra, mostra semanal de poesia. Estreou em 1995 com “Pedaço de Mim”. Em seguida, vieram “Margaridas” (1997); “Azul e Sem Sapatos” (1997); “Em Par” (2001); “Sol Sobre o Dilúvio” (2005); “O silêncio das xícaras” (2009); “Alfinetes” (2012).

 

ESGOTAMENTO

As palavras estão exaustas

de escrever contra a guerra

séculos e séculos

O que temos hoje, sem nenhuma trégua?

Guerras e guerras

 

As palavras estão cansadas

Há que enterrá-las

como enterramos os mortos.

Há que esquecê-las

até que chegue

um tempo novo de verdade incólume

e as palavras ressuscitem inocentes

 

SÉCULO XXI

Uma estrela maldosa piscará

uma única vez anunciando:

O mundo acabará como o conhecemos

Dominaremos terra céu e mar

O ar, não – estará rarefeito

Irrecuperável

 

A sede e a chuva ácida

Nos transformarão em horrendas criaturas

A rosnar e trucidar a carne

 

DILÚVIO

as águas cobrem as ruas

arrastando tudo

 

do outro lado junto ao muro

minha mãe. só os olhos

pedem que a recolha

 

tenho força de mil cavalos

e aquela flor

contra a corrente

 

tomo minha mãe nos braços

ela se encolhe

aqueço-a em meu colo

e devolvo-lhe o leite

 

para sempre Argentina

 

com quantos mil lençóis amordaçaram a noite

com quantos corpos cegos sangraram o mar

quantas e quantas noites mal dormidas

suportando passar os vendavais

o último cigarro a espera o rio

calçadas molhadas ossos frios

reflexos nas poças

os olhos de Borges

bandoneón

mar frio

maldita

dura

 

6 DE MAIO
estávamos felizes em pleno domingo 
a certeza próxima do outro 
comida no fogo roupa 
já passada 
casa nem tão limpa 
sapatos num canto 
projetos alinhavados 

a notícia chegou pelo telefone 
apagou o fogo 
separou nossos sapatos 

notícia maior que a vida 

 

MARIA BALÉ (19  ) poeta paulista, é pós-graduada em comunicação corporativa pela PUC - SP, produtora de textos publicitários, fotógrafa e autora de contos.Já foi premiada como escritora e como fotógrafa. É cronista do jornal eletrônico Algo a Dizer . Integra as antologias Damas de Ouro & Valetes Espada, Um e Dois, Sobre Lagartas e Borboletas e Hiperconexões, Realidade Expandida

 

ANIVERSÁRIO

Ainda 

com a placenta 

nas mãos  

punhos marciais

olhos de crepúsculo 

e voz de feitor

a mãe diz:

 

É dada a luz 

Agora vá!

Nascer é todo dia.

 

PUPA

Vestida de cápsula

gesto-me no tempo

 

sem pressa

 

nas vésperas do voo

teço tramas

 

serei asas

 

CLOSET

Como uma roupa de festa

cuidadosamente guardada

cultua a delicadeza

enquanto a força costura seus dias

 

MADRIGAL SEM BANDEIRA

O que mais amo em ti

não é o que pensa

luz que se traduz

o que fala

brisa que refresca

O que mais amo em ti

não é o olhar

remanso para minha culpa

Os braços

prenhes de abraços

O que mais amo em ti

não é o que pulsa

expulsa, exorciza

O que mais amo em ti

não é a boca

de beijos férteis

gozo, inundação

fecundação

O que mais amo em ti

é o renascer de mim

na saliva da tua alma.

 

BIANKA DE ANDRADE(1985) poeta mineira, é graduada em letras e mestranda em teoria da literatura pela UFMG. Já publicou poemas em algumas revistas digitais. Seu livro de estréia é Desejada Dor(2013)

 

BUMERANGUE

As palavras,

lancei-as

ao mundo.

 

O vento,

agressivo,

trouxe-os

de volta.

 

Me golpearam!

 

AMOR IDEAL

Convergimo-nos

irresistivelmente

um para o outro.

 

Todo o resto

é divergência

insuperável.

 

FANTASIA

Eu não quis a minissaia da vitrine.

Eu a quis em meu corpo.

 

Agora que a tenho,

quero suas duas mãos

em toque firme

pressionando minha pele,

em movimento unidirecional,

desde os pés

até as curvas da minha bunda.

 

Desse exato ponto,

quero senti-las vorazes

me puxando

até que nossos corpos

estejam efusivamente

em contato.

 

JOGO DE PREFIXOS

Quero

unir

o inútil

ao agradável.

 

Os que

desejam

o útil

 

fiquem

também

com

o desagradável.


Publicado por Rubens Jardim em 24/08/2017 às 17h25

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