11/01/2012 19h08
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (14)
ALICE SPÍNDOLA (1940) poeta mineira, artista plástica e divulgadora cultural. Participou de diversas antologias, nacionais e internacionais e fez sua estréia em livro individual, com Fio do Labirinto(1996) já ganhando 2 prêmios: da UBE do Rio, e da Prefeitura de Macaíba, no Rio Grande do Norte. Publicou também livro de contos e O Loire – poema fluvial da França (2006). Vive em Goiás. SEMPRE BUSCANDO A CANÇÃO ESQUECIDA No frêmito da ventura, a fuga e o retorno da imagem do pequeno barco. Imagem — fonte e oráculo — mergulhada na insularidade do mar de gestos e de palavras.
Com a alma seqüestrada pela beleza do rio e pelo rumor de suas águas, o menino procura a canção esquecida.
Menino parisiense voga nas milhas do sol.
E O MEU AMOR É TANTO
E o meu amor é tanto que, preso a rede deste encantamento, me faço Araguaia, Também. Sim, ó, Araguaia-mar, eis o poder de teus enigmas!
Um mar-oceano se adentra em mim. E eu, em mar, me converto. Mar de guas desafiantes. Mar que voga nas veias do meu canto.´
SILENCIO Para Stella Leonardos Na gruta do anoitecer, as nervuras do silêncio. a estrutura
Dos longes trago o fascínio do luar paro suavizar
Penetro janelas & oráculos. E, em invisível pouso, com a forço da paixão de quem ouve o respirar da palavra, e o do lucidez que ela me concede.
TERUKO ODA (1945) poeta paulista, é considerada uma das maiores expoentes do haicai no Brasil. Filha de imigrantes japoneses, é professora e fundadora do Grêmio de Haicai Caminhos das Águas(Santos) e presidente do Gremio Haicai Ipê (São Paulo). Já publicou vários livros: Nos caminhos do haicai(1993), Relógio de Sol(1994), Estrela Cadente(1996), Cata-Vento(2001).
Corrida engraçada —
Vento de inverno —
Solidão no rancho —
Barzinho de estrada —
Um quê de inquietude
No pó ajuntado
Rápidas bicadas —
ALICE RUIZ (1946) poeta paranaense, publicitária, tradutora e letrista, destacou-se na geração da contracultura dos anos 60 e 70. Foi poeta de gaveta até os 26 anos, quando publicou, em revistas e jornais culturais, alguns poemas. Mas só lançou seu primeiro livro aos 34 anos: Navalhanaliga(1980). Já publicou 19 livros, entre poesia, traduções e uma história infantil. Letrista, tem mais de 50 músicas gravadas. Já ganhou o prêmio Jabuti(1988) e governo do Paraná(1980).
Tem os que passam você esqueceu?
SE se por acaso eu ia tirar de ouvido ia ser um riso daí vá ficando por aí
Lembra o tempo em que você sentia
e sentir era a forma mais sábia de saber
E você nem sabia?
rede ao vento BARBARA LIA (1955) poeta paranaense, é professora de História e escritora. Publicou poemas no jornal Rascunho, Fenestra, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revistas Etcetera e Coyote. Finalista dos concursos de poesia Leminski (2000) e Pinheiro do Paraná (2002), publicou os livros de poesia O sorriso de Leonardo (2004), Noir (2006), O sal das rosas (2007) e A última chuva (2.007). PROFANA A cor do amor é branca, e o amor tem uma covinha do lado direito do rosto e o amor me olha como alguém que jamais vai tirar a minha calcinha e gozar o céu dentro de mim. O amor sempre vai me olhar como se eu estivesse num altar de papel. Para o amor, eu sou uma rima e rima não tem vagina. Para o amor, eu sou uma ode com uma ode ninguém fode. Eu sou um verso alexandrino jamais tocado pelo herdeiro deste nome. Eu sou a palavra, e a palavra, a palavra é Deus Deus ninguém come, mas será que beber pode?
SOPRO DE DEUS Sigo distraído e breve — piedade na alma, opulência no calabouço.
Sigo sereno, neblina me abraça. Meu corpo um jarro de esperanças.
O amor — única navalha que me corta. Aprendi que somos sopros de Deus — instantes.
MÃOS DE ABRIR NUVENS Ter mãos de abrir nuvens Romper o velcro de baunilha E espiar Dentro a catedral Dos sonhos Um rito de encanto Crianças e lagos E mapas emaranhados A Sexta Avenida deságua no Eufrates E as barcas cruzam De Bagdad ao Mojave As mãos se enlaçam Negras brancas Amarelas azuis.
Ter mãos de abrir nuvens Descobrir a alma de neve E perfumes Que se fazem Pássaros Camelos Bailarinas.
Quem possui mãos de abrir nuvens? Quem rega pedras E pesca pássaros Em tempestades E ancora no alto Da montanha mais alta Suas caravelas.
Quiçá Penélope, Sem manto, grilhões, espera. A abrir nuvens Além da torre de concreto Em pleno azul Entre a brancura espumada. Mãos de mulher livre A abrir o velcro Da humanidade encantada. Publicado por Rubens Jardim em 11/01/2012 às 19h08
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